terça-feira, 30 de março de 2010

Meninos e Meninas:

Nosso próximo livro paradidático chama-se "Um sonho dentro de mim", de Julio Emílio Bras. É uma história bem interessanre e vocês gostarão bastante. Iniciando as oficinas de leitura, interpretação e produção, vocês devem produzir texto dissertativo sobre o tema: A responsabilidade vem com a idade ou é uma consequência?
Para fazê-lo:
- Utilizar a norma culta;
- Observar as regras de coesão e coerência;
- Não rasurar;
- Ter um título criativo;
- Escrever no máximo 25 linhas.

Boa Sorte!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pregação ou Infração?

Tenho o costume de viajar de trem porque o considero um meio de transporte rápido e eficaz, apesar de pegar de vez em quando umas sucatas que sacolejam tanto que mal dá para ler ou tirar uma soneca.
Numa destas manhãs de outono, estou eu indo para Bangu, onde trabalho. Como de sempre embarquei no trem das 6h, cujo horário é o ideal, pois chego sempre com uns minutos de antecedência. Desço correndo as escadas da estação, um tanto atrasado, e sem perceber entro no vagão destinado às mulheres. Já faz um bom tempo que os homens não respeitam mais este privilégio feminino (e bem dado!) e ficam ali, tranquilos, como se nada estivesse acontecendo.
Não percebi ao entrar, somente depois que as portas estavam fechadas, que ali ocorria um culto evangélico. O pastor chamava-se Ari Coutinho e sei disso porque ele fazia questão de dizer seu nome. Sua pregação chamou-me a atenção, não pelo conteúdo, mas pelo tom de voz. Era jovem, uns trinta anos, voz aguda, mas firme e demonstrava conhecimento sobre as escrituras bíblicas, citando versículos para cada passagem de sua vida que contava. E como era disposto! Falava rápido e alto, puxando muito ar. Suas veias do pescoço destacavam-se pela cor vermelha e pelo tanto que levantavam a pele. Em determinados momentos perecia em êxtase, em transe. As pessoas que o rodeavam, uma por gostarem, outras por quererem ouvir a palavras e outros, como eu, por mero acidente, procuravam resignarem-se.
Porém, o que chamou minha atenção foi um de seus depoimentos pessoais, uma fala sua que não deveria ser dita, pois contradisse tudo o que estava pregando:
- Eu era um pecador e um infrator. Hoje não peco nem infrinjo mais. Agora sou um homem de Deus!
Eis aí o paradoxo.
Ora, desde 2009 que estão proibidas por lei quaisquer manifestações religiosas, justamente por causa dos excessos cometidos por certos grupos que resolveram transformar os vagões em extensão de suas igrejas. E a Supervia espalhou cartazes bem legíveis em todos os lugares com o número da lei, seu conteúdo e as penalidades para quem a infringe. Será que ele não viu?
O vagão é para as mulheres e há um cartaz próximo à entrada de cada porta, rosa, bem grande, informando os horários destinados para este fim. E também foi criado por lei estadual! Será que também não viu ou é mais fácil amealhar as mentes femininas e as dos mais humildes?
Também creio que ele não percebeu que estava infringindo o direito daquelas pessoas que fazem dos bancos do trem um pedaço de suas camas, pois acordam muito cedo e aquela horinha de sono é providencial. Quem consegue pregar os olhos com tanta gritaria?
Os leitores (e aí entro eu) também se sentem incomodados com o burburinho, com aquela martelação na cabeça que nos impede de concentrar. Não dá para ler o jornal, quanto mais o livro, por mais que nos esforcemos. Parece um punhal entrando em nossos ouvidos. Esta infração ele não percebe que está cometendo, mesmo vendo que em sua volta há várias pessoas nesta situação.
E assim chega a estação que descerei. O pastor segue sem cometer nenhuma infração e resolvo escrever sobre esta hipocrisia de considerar que o erro é sempre o outro que comete. Ele deve pensar que tem o aval de Deus para fazer o que quer, como quer e no lugar que quiser. E os outros?
- Ah! Os outros são os outros.

Sergio Batista da Silva, Minhas Crônicas, 2010.