sexta-feira, 7 de maio de 2010

O idioma, vivo ou morto?

O grande problema da língua pátria é que ela é viva e se renova a cada dia. Problema não para a própria língua, mas para os puristas, aqueles que fiscalizam o uso e o desuso do idioma. Quando Chico Buarque de Hollanda criou na letra de "Pedro Pedreiro" o neologismo "penseiro", teve gente que chiou. Afinal, que palavra é essa? Não demorou muito, o Aurélio definiu a nova palavra no seu dicionário. Isso mostra o vigor da língua portuguesa. Nas próximas edições dos melhores dicionários, não duvidem: provavelmente virá pelo menos uma definição para a expressão "segura o tcham". Enfim, as gírias e expressões populares, por mais erradas ou absurdas que possam parecer, ajudam a manter a atualidade dos idiomas que se prezam.
O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo do que propriamente aos gramáticos e dicionaristas de plantão. Nesse sentido, é no mínimo um absurdo ficar patrulhando os criadores. Claro que os erros devem ser denunciados. Mas há uma diferença entre o "erro" propriamente dito e a renovação. O poeta é, portanto, aquele que provoca as grandes mudanças na língua.
Pena que o Brasil seja um país de analfabetos. E deve-se entender como tal não apenas aqueles 60 milhões de "desletrados" que o censo identifica, mas também aqueles que, mesmo sabendo o abecedário, raramente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é comum ver nas placas a expressão "vende-se à praso", em vez de "vende-se a prazo"; ou "meio-dia e meio", em vez de - como é mesmo?
O português de Portugal nunca será como o nosso. No Brasil, o idioma foi enriquecido por expressões de origem indígena e pelas contribuições dos negros, europeus e orientais que para cá vieram. Mesmo que documentalmente se utilize a mesma língua, no dia-a-dia o idioma falado aqui nunca será completamente igual ao que se fala em Angola ou Macau, por exemplo.
Voltando à questão inicial, não é só o cidadão comum que atenta contra a língua pátria. Os intelectuais também o fazem, por querer ou por mera ignorância. E também nós outros, jornalistas, afinal, herrar é um, ops, umano!

SANTOS, Jorge Fernando dos. "Estado de Minas", Belo Horizonte

1 - Em todas as seguintes passagens, o autor deixa transparecer ideias que ele mesmo considera puristas, EXCETO em:

a) Claro que os erros devem ser denunciados. Mas há uma diferença entre o "erro" propriamente dito e a renovação.
b) ... não é só o cidadão comum que atenta contra a língua pátria.
c) Nesse sentido, é no mínimo um absurdo ficar patrulhando os criadores.
d) Pena que o Brasil seja um país de analfabetos. [...] Por isso, é comum ver nas placas a expressão "vende-se à praso"...
(e) O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo...



2 - Assinale a alternativa em que o autor, ao defender o dinamismo da língua, incorre em uma contradição.

a) Não demorou muito, o Aurélio definiu a nova palavra no seu dicionário.
b) Enfim, as gírias e expressões populares [...] ajudam a manter a atualidade dos idiomas...
c) O papel de renovar e atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo...
d) O poeta é, portanto, aquele que provoca as grandes mudanças na língua.
(e) Pena que o Brasil seja um país de analfabetos.

3) De acordo com o texto, é CORRETO afirmar que

a) a língua não oprime os artistas quando os submete à vontade do Estado.
b) os artistas revelam o caráter transitório da norma culta ao infringirem-na.
c) os escritores contrariam as regras gramaticais porque as desconhecem.
d) os gramáticos impõem normas para os artistas não as transgredirem.
(e) os poetas ligam-se às regras para fazer a sua arte.

4) “O grande problema da língua pátria é que ela é viva...”. Neste fragmento, é correto afirmar:

(a) é viva porque causa problemas;
(b) os problemas ocorrem porque ela é viva;
(c) é viva, assim como os problemas;
(d) a língua da pátria e os problemas são vivos;
(e) a pátria é viva, assim como a língua.

5) “Pena que o Brasil seja um país de analfabetos.”

O termo destacado tem o valor semântico de:

(a) dúvida;
(b) satisfação;
(c) ironia;
(d) constatação;
(e) confirmação.

Texto 2

Leia o texto com atenção e responda às questões de 1 a 5:

Mercado do desespero

Escolho a Índia, país maravilhoso, todavia poderia escolher vários outros para trazer brevemente um dos problemas mais sérios da atualidade.
Falo do crescente comércio de órgãos humanos de doadores vivos que domina a cena global. O encontro entre carências e demandas vitais: no mercado. De um lado compradores, desesperados por sobreviver a doenças. De outro, vendedores desesperados por sobreviver à miséria. E uma organização no meio deles, anunciando o milagre, arregimentando fragilidades, negociando a mercadoria, viabilizando cirurgias, corrompendo consciências e controles, alimentando redes via internet. De longe, governos minimizando ou negando que a barbaridade floresça em suas respectivas ilhas de tranquilidade e exceção.
Apesar da legislação, a Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos para o exterior, em sua maioria, já devidamente instalados no corpo dos estrangeiros. A Organização Mundial de saúde denuncia a prática, que envolve milhares de pessoas convencidas a vender rins ou córneas. Estudo recente mostrou a deterioração da saúde de 86% dos doadores indianos. Facilitam alguns valores culturais e a dominação masculina, levando a que mais de 70% dos doadores sejam mulheres. Muitas aceitam encenar casamentos com doentes, que as remuneram após conseguir o órgão, desfazendo a combinação em seguida. Vendem seus órgãos para pagar dívidas da família, para obter recursos para os estudos de um filho, para o dote da filha. Não parece história de novela?
Mas já em 2004 a Organização Mundial de Saúde reconhecia ser tragédia do mundo real e recomendava aos estados-membros que promovessem medidas urgentes para proteger seus pobres e vulneráveis do “turismo do transplante”, dando a atenção devida ao tráfico internacional de órgãos.
Em 2008 também o Papa exigiu ética em doações e transplantes e providências contra o que chamou de “abominável” tráfico humano.


Elizabeth Sussekind, O Dia, 09.02.2009

1) No começo do texto, a autora diz ter escolhido a Índia para ratar do problema do comércio de órgão humanos. Tal escolha, segundo o primeiro parágrafo, se deve ao fato da Índia:

(a) por ser um país maravilhoso, deveria ser uma ilha de tranquilidade e exceção;
(b) vive em situação mais miserável que os demais países;
(c) é o maior fornecedor de órgãos humanos de doadores vivos.
(d) possui uma organização mais atuante que outros países pobres.
(e) é simplesmente um, entre vários países, que exemplifica o problema tratado.


2) O “desespero” a que faz alusão o título abrange:

(a) doadores e compradores;
(b) doadores, compradores e organizadores;
(c) doadores, compradores, organizadores e governos;
(d) organizadores e governos;
(e) somente compradores.

3) A autora utiliza, em vários momentos, a conotação. Assinale a alternativa que comprova esta afirmação:

(a) “...anunciando o milagre...”
(b) “...negociando a mercadoria...”
(c) “...viabilizando cirurgias...”
(d) “...arregimentando fragilidades...”
(e) “...corrompendo consciências e controles.”




4) “De longe, governos minimizando ou negando que a barbaridade floresça em suas respectivas ilhas de tranquilidade e exceção.” Segundo este segmento, os governos referidos pautam sua atuação na:

(a) falsidade ideológica; d) desonestidade comercial;
(b) hipocrisia política; (e) segurança policial.
(c) discriminação racial;

5) “Apesar da legislação, a Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos.”
Marque a alternativa em que a forma de reescrever altera o sentido original da frase acima.

(a) A Índia é o país de onde mais saem órgãos humanos, a despeito da legislação.
(b) A Índia, apesar da legislação, é o país de onde mais saem órgãos humanos.
(c) O país de onde órgãos humanos mais saem, apesar da legislação, é a Índia.
(d) O país de onde mais saem órgãos humanos, apesar da legislação, é a Índia.
(e) A Índia, a despeito da legislação, é o país de onde mais saem órgãos humanos.

Texto 3

Leia o texto abaixo e responda às questões de 01 a 05

Luto da família Silva

A Assistência foi chamada. Veio tinindo.. Um homem estava deitado na calçada. Uma poça de sangue. A Assistência voltou vazia. O homem estava morto. O cadáver foi removido para o necrotério. Na seção dos "Fatos Diversos" do Diário de Pernambuco, leio o nome do sujeito: João da Silva. Morava na Rua da Alegria. Morreu de hemoptise.
João da Silva - Nunca nenhum de nós esquecerá seu nome. Você não possuía sangue azul. O sangue que saía de sua boca era vermelho - vermelhinho da silva. Sangue de nossa família. Nossa família, João, vai mal em política. Sempre por baixo. Nossa família, entretanto, é que trabalha para os homens importantes. A família Crespi, a família Matarazzo, a família Guinle, a família Rocha Miranda, a família Pereira Carneiro, todas essas famílias assim são sustentadas pela nossa família. Nós auxiliamos várias famílias importantes na América do Norte, na Inglaterra, na França, no Japão. A gente de nossa família trabalha nas plantações de mate, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balcões, no mato, nas cozinhas, em todo lugar onde se trabalha. Nossa família quebra pedra, faz telhas de barro, laça os bois, levanta os prédios, conduz os bondes, enrola o tapete do circo, enche os porões dos navios, conta o dinheiro dos bancos, faz os jornais, serve no Exército e na Marinha. Nossa família é feito Maria Polaca: FAZ TUDO.
Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala comum da glória, João da Silva. Porque nossa família um dia há de subir na política...

BRAGA, Rubem. "Luto da família Silva." Apud: Para gostar de ler. São Paulo: Ática






01 - A leitura do texto permite afirmar que o autor:

a) quis desqualificar as famílias não importantes, como a Silva.
b) pretendeu enaltecer a tradição de famílias importantes na história brasileira.
c) explicitou a submissão dos países da América do Sul aos da América do Norte.
d) propôs uma reflexão sobre diferenças sociais, sugeridas também pelos nomes de família.
e) enfatizou a importância de se melhorarem os Silva para entrarem na política.

02 - No texto, a expressão "vermelhinho da silva" traduz a ideia de:

a) intensidade.
b) carinho.
c) pequenez.
d) ironia.
e) desprezo.

03 - O texto estrutura-se na oposição entre os Silva e as demais famílias. Essa relação revela-se em;

a) "vai mal em política" e "há de subir na política".
b) "em todo lugar onde se trabalha" e "a gente de nossa família trabalha nas plantações de mate".
c) "vermelhinho da silva" e "sangue azul".
d) "vala comum da miséria" e "vala comum da glória".
e) "vermelho" e "vermelhinho da silva".

04 - A oração "faz tudo", em destaque no texto, assume a função de

a) resumir e comentar informações anteriores.
b) retomar e sintetizar informações anteriores.
c) expandir e explicar informações anteriores.
d) explicar e comentar informações anteriores,
e) retomar e explicar informações anteriores.

05 - A repetição da palavra família justifica-se:

(a) para citar todas as famílias do mundo.
(b) para citar as famílias que pela dele são sustentadas.
(c) para informar que as famílias não são importantes
(d) para informar um possível erro
(e) por ser ele de uma destas famílias.

06 - O tema central do texto é:

(a) mostrar sua família;
(b) mostrar que trabalha para várias famílias;
(c) mostrar a condição social de sua família;
(d) mostrar a condição social das outras famílias;
(d) descrever as famílias.

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